Em defesa da moda.

Eu já tinha preparado um outro texto pra postar hoje. Porém, acabei lendo a reportagem da revista Planeta desse mês "Ser inteligente saiu de moda" e minha indignação mudou o rumo do post. A reportagem é ótima: com toda certeza deve-se incentivar os jovens (e também adultos, porque não) a consumir mais cultura. Orgulhar-se de ser ignorante não é bom pra si, nem para a sociedade.
Mas indo direto ao ponto: a revolta surgiu mais precisamente no último parágrafo, quando o autor faz referência (de forma bastante pejorativa) à famosa sola vermelha de Christian Louboutin. Eu realmente não entendo o porquê de colocar a moda como exemplo de algo desprezível.

Não sei se sou apenas eu que me equilibro na tênue linha entre o superficial e o que importa, mas acompanhar as Fashion Weeks nunca me tirou a capacidade de entender uma equação matemática.

As vestimentas sempre foram importantes na história da humanidade, seja como proteção para o corpo, para identificação de classes sociais, para demonstração do poder. Atualmente, na minha visão, a moda tornou-se mais livre.

A minha pergunta é: por que a moda não é considerada arte, principalmente pelo autor (que faz referências à literatura e artes de modo tão oposto)? Afinal, ela não é também uma expressão que parte do ser humano, com o propósito de exteriorizar sentimentos e pensamentos?

Se o problema é a cópia, teríamos que excluir as artes, a música e os livros, uma vez que esses também são produzidos em escala. Se for por ostentação e representação do luxo idem, tendo em vista que obras de arte são mais vistas como símbolo de grande poder aquisitivo do que sapatos. No fim, são só suposições minhas.

Acho que existe um grande equívoco entre o que a moda realmente é e o que as pessoas entendam que ela seja.

A moda é inspiração, cor, movimento, criação, expressão. São todos os desejos que vem de dentro e transformam-se num objeto.
Quando um estilista mostra a sua coleção ele não está falando: "Você tem que usar isso, e tal peça só combina com tal". Ele somente está mostrando as suas ideias. É o seu jeito de ver o mundo que passeia pelo corpo das modelos, não necessariamente o que todos precisam vestir e gostar.

Não é a própria moda a culpada de toda futilidade criada em cima desse mercado.
Aliás, ela é a vítima, que tem sua imagem destorcida e confundida graças à epidemia de baixa auto-estima que se alastra nessa sociedade.
A indústria têxtil apenas se aproveitou da necessidade de milhões de mulheres em se sentirem lindas, queridas e amadas e apresentou um refúgio que é essa compulsão por seguir tendências.
Mas isso certamente não tira o mérito de artistas dos criadores.

Em exemplo prático: O criador do superman não tem culpa alguma se alguém se jogou pela janela do décimo andar pensando que também podia voar. Ele só criou o personagem, sem a pretensão de que os outros o achassem real.

É a mesma coisa nas passarelas.
As pessoas levam a sério demais algo que na verdade não é.
São elas que distorcem as coisas, procurando consolidar uma imagem seguindo padrões que lhes deêm identidade.
Mas a moda não é assim. Ela é reflexo da personalidade, ela vem de dentro.

Pena que pessoas que não entendem isso menosprezem o trabalho de artistas notáveis e divulguem como se fosse apenas mais uma futilidade.

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